quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Memorial Escolar

Minha vida escolar começou no Jardim Escola Ursinhos Risonhos, de onde tenho ótimas lembranças, principalmente da época de minha alfabetização. A professora era "tia" Nely, uma senhora, já muito experiente e com uma sensibilidade incomum. Ela me tratava com extremo carinho, me lembro de uma vez que ela disse que o meu "r" tinha uma voltinha perfeita! Fiquei toda boba! Tenho esta cena muito viva na memória.

Da primeira série tenho pouquíssimas lembranças, foi numa escola no município de Magé, uma das poucas lembranças que tenho é de que tinham muitas greves, o que me prejudicou bastante. Não me lembro sequer o nome da professora, foi um ano difícil pra mim, a separação de meus pais estava bastante recente.

No ano seguinte, fui matriculada no Colégio Pio XII, de direção católica, onde estudei até a quarta série. Foram anos incríveis... Professoras que mais marcaram minha vida. Na segunda série, tia Rosilda, exigente, mas muito calma, não me lembro de um grito sequer.
Na terceira série, a doce e incomparável tia Roberta... Infinito cuidado, carinho, e uma letra linda. Minhas notas eram sempre boas, sempre me destacava e tinha o reconhecimento e incentivo da minha família e também da escola.
A quarta série foi muito especial e importante, a professora não tinha mais tanto jeito de "tia", era mais exigente, mais séria. Foi a melhor que já tive. Tia Vera apostou em mim, na época eu me preparava pra fazer a prova para o Colégio Militar do Rio de Janeiro, era o sonho do meu pai. Neste mesmo ano, antes de entrar para a sala de aula, eu fazia a oração do Pai nosso e cantava um louvor, ao lado da coordenadora do Colégio. Todos os dias pela manhã, todas as turmas formavam para ouvir os comunicados e fazer a oração. Eu adorava!
Fiquei entre as 3 melhores da turma, na formatura ganhei medalha, fui a oradora, cantei e fiz a oração de sempre. Foi um ano maravilhoso!

1999 - Ingresso no Colégio Militar do Rio de Janeiro.
No início eu fiquei muito empolgada, apesar das dificuldades, tudo era novidade e minha família estava mega orgulhosa de mim. Minha trajetória lá foi marcada por momentos angustiantes, minhas notas começaram a cair, eu já não me reconhecia mais. Tinha medo das broncas em casa, das punições do Colégio, da competitividade que movia a grande maioria dos alunos. Enfim, eu comecei a me sentir perdida.
Na série seguinte, um pouco mais tranquila, foi a época em que fiz grandes amigos e curti bastante.
Na sétima série fiquei reprovada, foi terrível... Eu me senti péssima, mais por ter decepcionado meu pai do que por mim mesma. Daí eu comecei com a ideia fixa de sair do CM, não queria mais saber de regime militar, não queria mais saber de formatura, não queria mais viver angustidada com as notas baixas, com as longas reuniões de pais, com as frequentes aulas de recuperação paralela. Eu queria de volta a vontade que sempre tive de estudar, queria o êxito e a satisfação pessoal que sempre tive.
O regime militar nos deixa um pouco sufocados, são muitas regras, um mundo de convenções e pouca liberdade pra reflexão, questionamento.
Meu último ano lá, foi sem dúvida o mais complicado de todos. Eu joguei a toalha, porque queria ser "jubilada". Minha maior preocupação era decepcionar o meu pai, era o sonho dele, mas não dava mais pra mim e eu precisava escolher.
Saí e dei um novo rumo à minha vida, mas não posso negar que cresci e aprendi muitíssimo com essa experiência.

Com a reprovação no CM, tive de fazer a 8ª série novamente e, dessa vez num Colégio Público, C. E. Prof. Alda Bernardo dos Santos Tavares. Lá vivi o MELHOR ano de toda a minha vida escolar! Conheci professores maravilhosos e comecei a me interessar por Educação. A professora que mais me marcou lá foi Vera Alice, uma apaixonada pelo Colégio e pela profissão. Dava gosto de ver como os olhos dela brilhavam a cada exposição de projeto, a cada realização. Conviver com ela foi uma experiência MARAVILHOSA!

O Ensino Médio foi divido entre 3 instituições: Centro Educacional Cozzolino (1º ano), Colégio Futuro (2º ano) e Grupo Potência (3º ano). Professores que tinham muito mais cara de amigos, do que de professores... Pessoas excelentes, companheiros, entusiastas. Foram os que mais me ajudaram a desenvolver o senso crítico, a reflexão, a politização. Queridos que levarei no coração sempre: André Santiago, Xandão, Fabio Arruda, Rosane Albuquerque, Jaqueline, Julio César Couto e o saudoso e inesquecível Lucien Garin, mestre da matemática.

Quanto ao meu pai, bom, ele entendeu minha escolha de sair do CM e hoje se orgulha por me ver em uma das melhores universidades do país, me incentiva e apóia muito.

Antes de encerrar, gostaria de dizer que foi uma delícia sentar um pouco e reler a minha própria história. Ver que tudo valeu a pena e que eu posso me considerar uma PRIVILEGIADA, pois tive ao longo da minha vida professores de verdade, que me ensinaram muito mais que o conteúdo, me ajudaram a ser quem sou hoje. A todos a minha gratidão e um carinho enorme! Graças a cada um deles, hoje acredito que é possível fazermos um mundo melhor através da transformação que só a Educação pode trazer.

Em breve postarei algumas fotos de cada fase. Obrigada e até a próxima!


1999 - Colégio Militar do Rio de Janeiro.

Inaugurando!

"A principal meta da educação é criar homens que sejam capazes de fazer coisas novas, não simplesmente repetir o que outras gerações já fizeram. Homens que sejam criadores, inventores, descobridores. A segunda meta da educação é formar mentes que estejam em condições de criticar, verificar e não aceitar tudo que a elas se propõe."
(Jean Piaget)